sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Utopia Mentolada (4˚ Capítulo)

A madrugada é um mistério insaciável: o universo dos promíscuos e o maior pesadelos dos desavisados. Existem coisas que nem a escuridão consegue preencher, e é dai que surgem as mentes brilhantes.  Robert estava ali por detrás das árvores, pensando em como seria sua diversão desta vez. Claro que seria uma história muito bela caso tivesse ele repensado logo que vislumbrara Marina em sua mente, uma pena a negra imensidão ter ofuscado-na, apoderando-se dos olhos azuis feito oceano do rapaz alto e robusto.  Hoje não seria um dia comum.
 A menina dos cabelos cor de menta - muito bonitos por sinal - estava abraçada aos joelhos, olhando para baixo e aparentava chorar bastante. O tom de suas madeixas lembravam-lhe algodão-doce. Aquilo o excitara, parecia meio pastel e o que ele mais desejava era sentir a textura deslizando por suas mãos.  Ele sabia que estava dando passos sem volta, mas também tinha certeza de que aquela seria a melhor noite de sua vida.
 A menina algodão-doce ergueu o queixo enquanto limpava as lágrimas. Apertou os olhos e depois os arregalara, um pouco desesperada.
- Olá! – dissera Robert, com um sorriso amistoso e mãos estendidas, oferecendo-lhe ajuda para recompor-se e levantar. – O que houve com você? Precisa de algo? – indagou preocupado.
 Mentolada não baixou a guarda e nem mesmo aceitou sua ajuda. Seu oceano pupilar não tivera efeito sobre ela.
- Não, muito obrigada – olhou-o firme e desconfiada, levantando-se sozinha e andando para trás – meu namorado está logo ali. – mentiu.
 Se existia algo que Robert não suportava era o medo quando não haviam motivos para ter medo. Ele estava sendo educado. E ela, que lhe parecera tão cândida com aqueles cabelos coloridos, estava sendo muito indelicada com toda aquela desconfiança. Mentindo para ele. Mentindo!
- É que ouvi gritos e vi seu namorado brigar com você e lhe deixar só. – admitiu -  Este parque é perigoso pela madrugada, achei que poderia sofrer algum ataque de algum malandro qualquer, então resolvi perguntar se quer companhia para sair daqui. – alegara Robert, com olhar enternecido.
 A sereia utópica logo baixou um pouco mais a guarda, dando um meio sorriso desconfiado. Ela não era burra, Robert é quem era um grande miserável.
- Ele é um idiota. Sempre pensei que seríamos para sempre, mas há pouco percebi que ele jamais me amou na mesma porcentagem com a qual o amei. – disse Mentolada enquanto Robert carregava sua bolsa e ladrilhavam pelo caminho de volta.
 Robert sorriu. Sabia que havia ganhado confiança a partir do momento em que conseguiu segurar sua bolsa. Dessa vez ele queria algo inovador. Uma coisa diferente de qualquer outra que ele já tenha feito. Talvez demorasse um pouco, mas ele sabia que aquele ato seria um marco em toda a sua história.
 A moça dos cabelos fantasia revelava sua intimidade enquanto caminhavam e nem percebia a trilha da qual seguiam. É, talvez ela não fosse tão esperta assim...
- Você gosta de balas de menta? – questionou Robert.
 A menina sorriu, como se dissesse que aquela pergunta não lhe era singular, mas sim cotidiana.
- Sim, gosto muito de balas de menta, mas não, meu cabelo não é inspirado nelas! –gargalhou.  
Robert sorriu para não passar em branco, enquanto dizia que sentia vontade de “provar” seus cabelos. Na verdade aquilo era um tédio e só ele sabia o quanto Marina lhe fazia questionar seus sentidos nesse aspecto.  Parecia que, com ela, a dor de outrem não era necessária. Com ela os sorrisos bastavam e aquilo o deixava histérico. Ele não precisava forçar satisfação ou bondade, esses atos simplesmente vinham como se sempre estivessem ali, guardados em um lugar especial, somente para ela. Era natural, e aquilo lhe dava medo. Aquelas amêndoas tão lindas lhe faziam transfigurar.
  No lôbrego de seus olhos, Mentolada lhe parecia mais provocativa...


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Hostil Opressor (4˚ Capítulo)

Quem dera estivesse com Petterson naquela noite. Quem dera não passasse de uma meretriz indigna.
 Lindsay poderia definir-se em qualquer palavra, menos em uma: dama. Poderia esconder as lágrimas, enquanto tapas e socos ricocheteavam por toda a sua extensão corporal, mas de que adiantaria? A água que caia de suas íris eram de desgosto e amargor por si mesma. No fundo, sentia-se merecedora de todas as marcas que se alastravam aos poucos por seu corpo. A pior parte não seria aquela. A pior parte seria depois, ao se olhar no espelho e ver no âmago o quão suja ela era.
 Marcos não economizava em sua palavras, e o prazer dele estaria em vê-la implorar por remissão. Ajoelharia-na aos seus pés e ela pagaria ali por aquilo que merecia, e da forma que mais faria jus ao seu nome: Pécora.
 -------
Petterson não se preocupara com mais nada além de pegar as chaves de seu carro e partir em disparada para a residência de Lindsay. Ele sabia que havia pago por serviços de espionagem, mas seu coração não era de ferro, e algo lhe dizia que precisava agir rápido. A casa de Lindy, como costumava chamá-la às vezes, não era tão longo ao ponto de lhe fazer surtar, mais nem tão perto para lhe deixar tranquilo em seu trajeto. Ele não sabia o motivo, mas sentia uma dor forte, como se adivinhasse que aquele seria o pior dia de toda a sua vida, mas o que o homem de cabelos grisalhos altamente sedutores menos sabia, era que aquele realmente seria um dia único: o dia em que tudo voltaria ao pó!
------
Marcos batia em Lindsay com violência, enquanto dava sinais de que aquele não seria o fim. Seus olhos beiravam um abismo entre o prazer a consternação. Prazer ao ver aquela mulher se rastejando aos seus pés, suplicante, com marcas roxas pelo corpo e a boca ensanguentada. Consternação ao lembrar-se que, mesmo assim, era para os braços de outro homem que ela correria. Aquilo o fizera elucidar, transcender em cólera. Ódio que exalava por suas entranhas. Socos não eram suficientes. Arrastou-a pelos cabelos enquanto chutava-na e batia sua cabeça pelas quinas dos móveis. Pisoteava em seu rosto e gritava de forma gutural o quão exulcera era sua existência. "Você é uma biscate de marca maior" - gritava ao mesmo tempo que a mandava tirar suas roupas e lhe esbofeteava a face sem dó ou piedade. - "Vamos, repita o que eu disse sua piranha!".
 "Marcos, por favor, me deixe em paz, - suplicava em lágrimas - não faça isso comigo. Vá embora, eu imploro!". Lindsay não tinha mais lágrimas para serem choradas, senão as de sangue. Sua alma estava pagando por todos os seus pecados. Sua injurias seriam cobertas aquela noite. Quanto mais ela falava, mais levava chutes e tapas. Silenciou e obedecera Marcos, tirando sua roupa e declarando-se a maior prostituta dentre todas da redondeza. Chorava calada por seus erros e pedia a Deus a ajuda que não merecia, enquanto o homem mais repugnante que já pôde existir aos seus olhos, lhe ordenava indecências asquerosas.
 Talvez a vida estivesse sendo legal com ela.
 Lindsay não acreditava que valesse muito mais do que aquilo que estava sendo coagida a fazer...

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Devasso Prazer (3˚ Capítulo)

Existe uma grande fenda entre o certo e o errado, mas com certeza não faria nenhum grande contraste.
Existe um abismo entre o medo e o agir impensado, porém a indiferença se torna a ponte.
Não existe amor.
Robert poderia até ter aberto mão de seu lado negro, mas se fosse por isso, que se matasse. Existem coisas que sentimentos fraternos não podem dar valor. Coisas que só o menosprezo e a insensibilidade podem nos dar. Sentado num banco qualquer, sadicamente pensava sobre como seria terrível acordar pela manhã sem ter cometido nenhuma indolência. Ele sabia que aquilo machucaria alguém, mas esse era o objetivo final. Era madrugada, sexo pago não tinha graça e nunca teve. Prostitutas não sabem atuar. Prostitutas são um lixo. Fazer amor? Procurar alguém para se aventurar em um flerte casual? Cansativo demais.
 Ele precisava agir rápido caso ainda quisesse se divertir naquela madrugada. O que fazer?-Levantara-se, caminhando em direção ao parque deserto. Aquele lugar era sombrio, muitos considerariam assustador. Ao chegar mais perto, sentou-se debaixo de uma das muitas árvores que povoavam o local, que não tinha muita iluminação, mas o suficiente para perceber que não estava só. Havia um casal ali. Eles estavam brigando, e feio. Ouviu barulhos de tapas, de alguém caindo no chão e, em seguida, o reflexo de um homem esvaindo-se pelas sombras do parque.
 Existiam muitas possibilidades, mas nenhuma delas era positiva. Existia uma variedade de escolhas, mas nenhuma dela incluiria ajudar a vítima. Na mochila ele carregava alguns brinquedinhos que lhe poderia ser úteis. Ele iria se divertir.
 A passos curtos caminhava em direção à presa, que, graças à nequícia que se alojava em seu ser, teria o pior dia de sua vida. Claro que ela teria direito às últimas palavras, mas normalmente esses idiotas são burros e não sabem escolher direito. É incrível, dá-se a chance de eles pronunciarem seu ultimo verbete em terra e eles só sabem dizer "Por favor, mimimi, me deixe viver". - Realmente, nessas horas dá vontade de nunca mais oferecer-lhes a oportunidade... Robert nunca havia matado alguém, mas amava o desespero do último fôlego. Amava ver a dor dilacerando e refletindo no rosto. O medo de morrer sem dizer seu último adeus aos familiares... Aquilo era melhor que sexo ou drogas. Era algo que só a sordidez a devassidão podem proporcionar. Algo que somente psicopatas poderiam considerar prazeroso.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Cândido Insólito (3˚ Capítulo)

"A heart that's full like a landfill [...] Bruises that won't heal..." - ouvir Radiohead poderia ser lancinante, mas nessa altura do campeonato, isso era a última coisa com que Caio se importaria. O que ele menos queria - lá do fundo de seu coração - eram sorrisos estampados no rosto de quem quer que fosse. O que ele menos queria era enxergar a felicidade alheia (não tão alheia assim): a felicidade de Marina. Se fosse possível voltar no tempo e reviver aquela manhã, gostaria de não ter se levantado da cama e nem mesmo chorado uma lágrima sequer ao chegar em casa. Adoraria recomeçar sua vida e parar de sofrer por alguém que se demonstrara tão desprezível.
  Marina sonhava com aqueles olhos azuis que se acinzentavam de uma forma tão casual quanto suas calças jeans, e apesar de terem sido poucos os seus encontros com o homem másculo e tão alto quanto um pilar, ela já sentia que poderia gastar todo o seu estoque de salivas com o mesmo. Robert parecia-lhe muito perspicaz e cheio de truques em seu cortejo. Ora se demonstrava intensamente pronto para engajar um romance salpicado de intensidades colossais, ora lhe parecia cheio dos impasses aprazíveis de se viver em um flerte amistoso. Aquilo era tão bom quanto chocolate na TPM
 Toda a vez que pensava em Caio, Marina sentia que havia feito a coisa certa, no início não, mas depois percebera que nada daquilo estava acrescentando felicidade ou alegria de ver a vida passar por seus olhos. A aventura e o frio na barriga que só sentia com as lumes que tomaram o céu para si.  Caio havia sido um bom rapaz, e ela jamais poderia dizer o contrário para ninguém. Quem o tivesse como namorado, seria muito feliz, mas não teria muitos frios na barriga.
 Depois daquela cena pela manhã, o rapaz esbelto, alto e de cabelos negros decidira colocar um ponto final em seu sofrimento, iniciando por tirar Marina de seu círculo de amizades e viver sua vida como sempre viveu. Ele sabia que seria doloroso e difícil esquecer o sádico olhar de Robert para ele, como se estivesse dizendo: "Esse beijo é um presente para você, seu otário. Sinta o gosto dos suculentos lábios dessa gostosa, que um dia foi sua. Seu banana". O que Caio menos queria era brigar com alguém, e nem mesmo era do tipo valentão, ele só sabia de uma coisa: em seu coração, Marina havia morrido, e mal ele sabia o quão aquilo era verdadeiro.
 Robert estava pensando em como encontrar novamente a moça com os lábios mais macios do mundo, mas logo se esqueceu, ao chavear a porta da casa de seu pai e sair. Naquela noite não existiriam limites e nem mesmo regras. Naquela madrugada ele recompensaria todas as outras das quais se "comportara".
 Seus olhos se enevoaram e ele sabia que, se quisesse ter uma noite intensa e cheia de perversões calorosas, deveria esquecer que olhos doces, ternos e amendoados existiam, e que se o vissem, encheriam-se de lágrimas. O mais esquisito nem era isso, mas sim o fato de  ele sentir a dor arranhar o peito só de imaginar aquele cândido sorriso se esvair, deixando lugar para a chuva, que cairia de seus luzeiros tão belos e amáveis. A chuva e a vontade de secar suas lágrimas com a ponta dos dedos, como da primeira vez que a vira, e logo depois beijar seus lábios de forma suave, como se pudesse tocar sua alma com as mãos, e afagar o coração.
 É, realmente, ele estava estranho. - Reconheceu.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Marcas da Perdição ( 3˚ Capítulo)

Marcos não se preocupara em trancar a porta de sua casa. Não se preocupara em respirar ou arejar a cabeça. Ele só se preocupara com uma coisa: entender o que aquela vadia estava querendo fazer com ele. Certamente enlouquecê-lo, afinal, quem em sã consciência chama aquilo de relacionamento? Quem? Me diga. Levante a mão você aí que sabe, ou acha que sabe a resposta.
 Estava seguindo rota em direção à casa de Lindsay, sua sei-lá-o-quê (Namorada? Não. Amante? Não, somente ele fazia esse papel. Rascoeira filha de uma mãe? Humm, esse lhe parecia um bom termo). Marcos só sabia de uma coisa: quando chegasse em seu destino, Lindsay aprenderia as definições de algumas palavras não tão bonitas assim.
---
Aflita, Lindsay desligara seu celular e prometera para si mesma que nunca mais falaria com Marcos. Prometera que não iria mais trair Petterson, e o melhor, que iria se dar mais valor e parar de se tratar como migalha, mas no fundo ela sabia que não conseguiria cumprir aquilo que estava se prometendo. No fundo, ela sabia que já havia se soterrado em lama, e agora, para lavar-se, só se desse-se por vencida e se desfizesse de si mesma.
 Ela tinha quase certeza que Marcos estava a caminho, e seu quase desapareceu quando a porta foi chutada com violência e seu vaso caro que havia comprado em uma de suas viagens se esmigalhou no chão, assim como seu interior. Seus olhos tomaram um tom de medo e descompasse, e ela sentiu que se fizesse alguma coisa além de proteger seu rosto e colocar-se em posição fetal, abraçando os joelhos no canto da parede, seria seu fim.
---
- Eu já estou cansado, sua cadela desgraçada. - gritava de forma gutural - Cansado de ser o cara para quem você liga quando está afim de suprir suas verdadeiras necessidades, sua rameira filha de uma piranha de marca maior. As necessidades que aquele frouxo do seu namorado não consegue suprir. - afirmou, aproximando-se da mulher encolhida e amedrontada ao fundo da sala.
 Marcos não queria nada além de ter aqueles lábios macios somente para ele. De ter aquele corpo à meia luz sem repartições ou dívidas... Impasses. Sua irritação era o fato de a verdade se escancarar em seus olhos todos os dias, ao perceber que, no fim das contas, a mulher que mais o fazia arder em desejo não era sua por totalidade. A mulher que não lhe deixava pregar os olhos, não tinha sua prioridade, mas sim a de outro homem. Se isso justificava as marcas que, logo mais, deixaria em seus braços e em outras partes do corpo? Tanto faz.
 Ela merecia cada uma delas.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Desencontros (3˚ Capítulo)

Robert havia chegado deveriam fazer algumas horas. Não dera olá e nem fizera questão de disfarçar seu ódio por enlatados - "Esse é meu filho" - pensou Petterson, enquanto ria desgastado. O mesmo sentira-se aliviado por não precisar disfarçar sua tensão e, pela primeira vez, se viu com olhos agradecidos por seu filho ser como é: indiferente.
 Ele não sabia o que Lindsay pudesse estar fazendo, e, sinceramente? Também não queria saber. Não agora. Não depois de ter tomado uma bela ducha e ter se sentido renovado, como se a água pudesse obstruir seus pormenores internos. Fechara o best-seller, marcando a última página lida com as orelhas do livro e colocando-o na cabeceira ao lado de sua cama. Fechou os olhos e afundou-se por inteiro em seus dilemas: Robert, que não lhe dava sossego e o deixava com cabelos desgrenhados de tanto se preocupar com o modo obscuro que demonstrava levar a vida. E Lindsay, a namorada perfeita-mas-não-tão-perfeita-assim, pelo fato de lhe fazer desconfiar de sua fidelidade.
-----
 Lindsay estava na sacada, e nessas horas ela adoraria ser adepta ao uso de tabaco, afinal, combinaria muito com sua situação: mulher leviana, escravizada pela vida de duas mãos que levava, e o pior, todos sabem que se o motorista não decide o que quer e fica em zigue-zague, pode colidir. A cada dia Marcos se tornava cada vez mais sagaz e intragável, mas sempre sedutor. Aqueles olhos fulminavam desejo e cobiça. Uma volúpia que a engolia e a fazia delirar de ódio. Ódio dele e daquela boca carnuda e macia que despejava palavras vulgares, ríspidas, arrogantes e asselvajadas. - "Eu ojerizo aquele boçal com todas as forças que existem dentro de mim. Ele é incrivelmente voluptuoso e excitante. Seus olhos são intensos e ordinários, cheios de si. Olhos de quem paga para ver. Lumes arrogantes, carregadas de luxúria. Luxúria que abraça meu ventre e desfaz meus sentidos - suspirou, exasperada - "Marcos, você me paga." - pensou odiosa enquanto fechava a janela da sacada e tentava se recompor. Ela precisava esquecer que Marcos poderia aparecer a qualquer momento cheio de desejo, não se importando se ela iria aceitá-lo ou não em cima de sua cama, fazendo qualquer coisa relacionada à união de dois corpos, menos uma: amor.  O relacionamento entre ambos era um emaranhado descomunal. Ninguém sabia o que sentia. Existiam momentos em que Lindsay tinha vontade de abraçá-lo e dar-lhe cafuné, mas se continha para manter o poderio. Para mostrar que ela também tinha o comando, e que na realidade o sentimento pouco importava ali, entretanto, Marcos às vezes lhe saía bom moço e cheio dos afagos. Afoito por carinho e um ninho para se aconchegar: seu colo. Sorrisos simpáticos e cheios de devoção condecoravam sua face robusta, desfazendo-se da máscara de durão machista e intolerante automaticamente. Nessas horas, Lindsay sabia que estaria perdida se ele decidisse se manter assim por mais de duas horas.
-----
Petterson estava decidido a não ligar para Lindsay naquela noite, até que algo lhe fez pensar que aquilo poderia soar estranho, já que sempre se desejavam bons sonhos antes de adormecer. O que menos queria era afetar seu relacionamento de forma negativa, antes mesmo de saber se isso realmente era necessário.
 Lindsay era uma mulher bela e simpática, cheia de qualidades e bons costumes. Uma das qualidades que lhe eram atribuídas era a de que sabia mentir muito bem, desde que houvesse se programado para o mesmo. Bons costumes? Bom, esqueçamos disso por hora.
 Ao finalizar a discagem de números, Petterson pensou em como sofreria caso sua desconfiança passasse a ser um fato.
  Após fechar as janelas da sacada e comer um sanduíche natural, a mulher de olhos grandes e puxados estava aflita por uma mensagem ou ligação... de Marcos. Lindsay não suportava mais esperar e enviou-lhe uma mensagem para que ele a ligasse o mais rápido possível.
- O...
- O que você quer Lindsay? - interrompeu Marcos, com voz irritadiça.
- Nossa, esqueceu a educação aonde seu filho da mãe? Lhe enviei uma mensagem pedindo que me ligasse, não que me insultasse. - falou Lindsay, saturada das humilhações.
- Estou pouco me lixando para você, para não dizer coisas piores. - alegou antes de mudar o rumo da conversa. - O que você quer? - indagara impaciente.
Lindsay fechou os olhos, encheu os pulmões e soltara pausadamente, saboreando... Se contendo.
- Eu só queria saber notícias, não sei mais o que estamos vivendo, só sei que estou com saudades daquele Marcos romântico e preocupado com os detalhes do relacionamento - desabou Lindsay, um pouco alterada.
 Marcos sentara-se em sua cama com as mãos na cabeça - "Que relacionamento, sua cretina?" - pensara, vincando a testa e desligando o celular sem se preocupar em se despedir ou responder qualquer coisa. Se fosse para responder algo, com certeza seriam palavrões da mais baixa categoria.
------
Petterson havia tentado ligar várias vezes, mas o número de Lindsay leu-se como ocupado, e, logo depois, desligado.
 Aquilo o alarmou.







sexta-feira, 22 de maio de 2015

Fulgor Estelar (3˚ Capítulo)

Alma inquieta e intensa era o que Marina irradiava. Robert tramava nas escuras de suas válvulas pensantes sobre como aquilo fora fácil. Entediante. Beijá-la havia sido bom, mas não enlouquecedor. Tocar seus lábios macios havia aguçado a candura de seus olhos, ele não podia negar, mas não ao ponto de não conseguir extasiar-se ao ver os fuzis de ônix que lhes eram apontados enquanto tocava seus lábios aos de Marina. Caio, o rapaz mais frouxo e babaca que já havia conhecido estava com íris marejadas e enrubescidas. Paralisado estava ele, como se a mais doce gazela tivesse sido atingida por um dardo qualquer, ou melhor, não tão qualquer assim: um dardo chamado Robert Wakcher.
 Enquanto disseminava pensamentos quentes e sujos a respeito da "mais doce gazela"- pensara, enojando-se com o apelido açucarado. - imaginava o rosto de Caio e em como ele queria que o mesmo fosse menos molóide e viesse tomar satisfações. Robert estava ávido por uns bons socos na face. Louco por alguns hematomas pelo corpo e boas doses de vitimização. Era tudo o que ele mais almejava e que, literalmente, correria atrás com fervor nessa nova jornada.
 Marina não iria negar para si mesma e nem para ninguém no mundo de como aquele beijo havia sido bom e cheio de dulçor, o melhor que já desfrutara em toda a sua vida amorosa. Se o negasse, seria digna do inferno, pois a mentira está dentre os palanques pecaminosos. Deitada em sua cama, velejava pelos olhos de Robert, o rapaz mais viciante e cheio de entrelinhas que ela já havia conhecido na vida. Nesses momentos a imaginação é uma grande aliada.
 A cada dia Marina sentia-se menos culpada por terminar seu relacionamento com Caio. Apesar de saber que ela sempre fora um namorado muito leal, amoroso e compreensivo, também tinha plena certeza de que ele jamais passaria disso. Jamais passaria de um bom namorado...
 O que quer que fosse o que Robert estivesse fazendo no momento, ela sabia: aquele beijo se eternizaria em seus lábios como as estrelas, que mesmo mortas, retém o fulgor.
 Robert estava em casa, comendo um enlatado qualquer, como de costume, enquanto praguejava a existência do mesmo. Cabelos bagunçados e roupa maltrapilha combinavam com seu humor, apesar dos bons momentos que tivera ao caminhar e beijar Marina logo pela manhã, onde seus hormônios estão em alerta para qualquer sinuosa curva feminina, principalmente no caso daquela gostosa. Hmmm. Aquelas curvas ainda o fariam cometer alguma besteira, mas nada que já não o tivesse cometido outras vezes, como em algumas madrugadas pretéritas em que precisava colocar a "vida" em dia... Ele sabia que com a menina dos cabelos negros era diferente, mas não podia negar sua essência pecaminosa.
 Robert sabia que envolver-se com aqueles doces olhos amendoados poderia mudá-lo para sempre. A única coisa que, talvez, ele não soubesse, é que ele lutaria com todas as forças justamente para isso.